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Mostrando postagens de julho, 2007

[67] Eu não sou só introspecção

Passamos a maior parte do tempo desatentos para o que vivemos e sentimos. Ao final de um dia, são poucas as lembranças razoavelmente vibrantes que temos das quase 16 ou mais horas vividas. Assim, em um certo sentido, podemos dizer que passamos a maior parte do tempo alheios a nós mesmos. O ser humano se desconhece. No entanto, ao dizer isso, suponho que me conhecer envolveria ter consciência constante da minha própria experiência, isto é, que ao viver, eu deveria me acompanhar introspectivamente para ter uma compreensão mais clara do que sou ou vivi. Eu me pergunto se essa presença constante de si diante de si, além de impraticável, não seria também sufocante se possível. Um eu que se policia o tempo inteiro é um eu que se esmaga, sente o fardo da sua existência. Não é claro também que obtemos mais conhecimento do Eu prestando mais atenção nas experiências e nos sentimentos do que no conteúdo dessas experiência e sentimentos. Ambas as coisas parecem ter relevância. Conheço coisas difer

[66] Obter a verdade vs. obter a verdade garantidamente.

Na primeira meditação, Descartes afirma que a sua razão lhe diz para se abster de dar o seu assentimento não só a opiniões que sejam obviamente falsas, mas também a opiniões que não sejam completamente certas e indubitáveis. O corolário dessa afirmação é que, se você tem uma razão para duvidar de uma opinião, então está justificado em rejeitá-la. No entanto, Descartes não nos dá nenhuma razão para a sua afirmação inicial. Não é claro que devamos rejeitar uma opinião que não seja completamente certa. De onde provém a justificativa para este dever? Um motivo seria evitar o engano. Embora, por razões práticas, seja vantajoso evitar o engano, não é, ao mesmo tempo, vantajoso evitá-lo pelo preço de rejeitar todas as crenças incertas. Mas há razões teóricas para se evitar o engano. Se o seu objetivo é descobrir quais das suas opiniões são verdadeiras, então deve evitar o engano e, assim, rejeitar tudo que não for completamente certo. O que temos aqui é um raciocínio instrumental de adequação